No início, quando tudo era ainda muito vago, quando ainda me perdia dentro do grande edifício e antigo, que hoje me parece pequeno, como uma casa, quando olhava para rostos fechados em corpos que partilhavam a mesma sala, nesse início, eu era um nada, porque não sabia nem um milésimo de tudo.
Quando entrei, pela primeira vez, nesse edifício, hoje casa, ávida de devorar tudo com o olhar, de falar de conhecer e de partilhar, eu estava perto e estava longe. Perto de pessoas que se tornaram um alicerce fundamental na construção da minha personalidade e longe de o poder entender.
Os dias, os meses e os três anos sucederam-se a um ritmo que eu não fui capaz de acompanhar. Durante o tempo, escasso tempo, que passei na minha casa, que é a Escola Secundária de Penafiel, mais do que aprender e assimilar conhecimentos, cresci. Moldei a minha personalidade de mão atada com aqueles que foram essenciais e, sem os quais, eu seria ainda pequena, como o era no primeiro dia.
Na minha casa, tive o privilégio de ter uma família; pessoas que não me deixaram cair, que partilharam comigo alegrias, tristezas, angústias, lágrimas, gargalhadas… Pessoas que me transmitiram uma lição de vida, a cada dia.
Assim é a minha família. Assim é a minha casa.
Diz-se que só damos valor a algo quando perdemos. Cliché? Frase feita? Realidade.
Hoje, continuo o meu caminho e prossigo com o meu crescimento. Voltei a entrar num edifício estranho e vejo, todos os dias, rostos com os quais, até há pouco tempo, não me identificava, mas que agora começam a fazer sentido e a ganhar importância. É impossível negar que estou a formar uma nova família. Mas esta família nunca irá substituir aquela que Penafiel viu nascer e estará sempre presente.
Quando subi ao palco da escola, para receber o meu diploma de finalista, não pensei no papel que me estava a ser entregue e esqueci-me do Mundo à volta, da angústia que já sentia com a aproximação da divulgação dos resultados das candidaturas… Naquele momento, quando ouvi pronunciar um mágico “12ºI”, só pensei nas pessoas que se levantaram e caminharam comigo em direcção a um futuro, mais do que em direcção a um palco. Foi naquele momento que tive vontade de dizer a todos o tamanho do orgulho que sinto por tê-los conhecido e por ter partilhado com eles um pedaço importante da minha vida. Foi naquele instante que pensei nos que lá não estavam fisicamente, e os senti presentes dentro de cada um de nós. E, se me é permitido falar no plural, todos pensamos em pessoas cruciais às quais é impossível dizer adeus, porque os laços estão demasiado apertados…
Vocês, que ainda estão nessa casa, que ainda podem olhar para o rosto daqueles que fazem parte da vossa família todos os dias, aproveitem cada momento, esforcem-se e lutem para que a casa de todos nós permaneça assim, feliz e unida.
Levo-vos comigo para a vida.