Porto Campanhã. Contumil. Rio Tinto. Águas Santas. Ermesinde. Cabeda. Susão. Valongo. São Martinho do Campo. Terronhas. Trancoso. Recarei. Parada.
Já sei de cor o nome de todas as estações e apeadeiros deste percurso que faço, dia após dia, às vezes noite após noite. Entro e pecorro o comboio com um olhar descarado que não disfarço, na esperança de encontrar alguém minimante conhecido, mas raramente sou bem sucedida. Segue-se o pânico habuitual do "onde é que eu meti o meu passe, rais parta não encontro a carteira no meio desta confusão, meu deus vem aí o pica."
O susto é evidente quando olho para alguém que não conheço e me apercebo que sei exactamente onde vai sair. Sei onde trabalha, o que faz, o nome dos filhos. Gosto de ouvir as conversas corriqueiras, mais por cusquice do que por ocupação de tempo morto, confesso. Descubro coisas incríveis, assustadoras, hilariantes. Uma vez uma mulher contava que o filho tinha preenchido um cupão quando estava a brincar aos supermercados com os amigos e, passado uns dias, parou-lhe um camião à porta com uma encomenda de electrodomésticos. Dessa vez, não consegui conter o riso (gargalhada, vá), ao imaginar a pobre senhora a tentar explicar que não tinha preenchido nada, que até dava jeito mas não tinha dinheiro para pagar semelhante coisa, que foi uma brincadeira do filho e os senhores a meterem o frigorífico, a máquina de lavar e o microondas dentro do camião e a irem embora, com o dia perdido.
E também gosto de ouvir as discussões das pessoas ao telemóvel.
“Próxima paragem, Parada”. Será que há alguém que repara que eu saio aqui?
Andar de transportes públicos é uma experiência sociológica extremamente rica e fascinante.
Adenda: A última frase é apenas para que a minha imagem com este post não saia demasiado denegrida.
Devo ser uma pessoa muito odiada pelas pessoas que viajam no comboio de Penafiel.
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