sábado, 22 de agosto de 2009

Portugal, um país perto de Espanha.

Há dias em que me surpreende uma incontrolável pena de viver neste país de gente corrupta, onde o pobre é preso por querer comer e o rico malfeitor e mentiroso vive numa casa de cinco assoalhadas e viaja em paquetes de luxo no mar das Caraíbas, neste país onde as estradas são assassinas impiedosas e morrem às centenas de cada vez, onde se bebe até cair porque conduzir com os copos não tem mal nenhum e a viagem nem é longa, por isso não vale a pena sequer usar o cinto. Este país onde ler um livro é coisa de gente que não tem mais o que fazer, onde se diz que ser culto é caro e as Just Girls enchem o Campo Pequeno. Tenho pena de viver no país que já se está a lixar para os brandos costumes, cada qual que se safe sozinho e olhar para as necessidades do vizinho nem pensar, que não precisamos dos outros para nada. Um país onde se trabalha muito e se produz pouco, em que as horas do trabalho são aborrecidas e mais vale aproveitar para pintar as unhas, um país onde é melhor comprar a crédito do que poupar e onde o salário mínimo estica como pastilha elástica.
Às vezes, tenho vergonha de viver neste país do deixa andar que logo se resolve, daqui a uns anitos talvez, onde se fazem estádios de milhões para clubes da segunda divisão e os telhados dos centros de saúde caem na cabeça dos utentes. O país dos 19 de média para entrar em medicina, onde somos atendidos por médicos espanhóis, brasileiros e ucranianos. O país que mostra a sua melhor faceta nos programas de televisão, que lindo, somos tão solidários, comovemo-nos com tanta facilidade, mas vai se a ver e não damos um abraço à nossa mãe desde que desmamámos. O país dos incêndios no Verão, das cheias no Inverno, das cunhas, tanto jeito que fazem e quem me dera ter uma. Um país de mamas XXL, que quem as tem deve passar fome durante um ano para as poder pagar, o país do “ quero um carro como o do Ronaldo, uma casa como a do Ronaldo, a namorada do Ronaldo”, que se lixe se ele ainda não aprendeu, como a maioria dos portugueses, que não se diz “ recebestes”, ou “hades”.
Enfim, a vergonha do país onde o desemprego desce uma décima num ano, que alegria, e todos batem palmas e penduram bandeiras nos parapeitos das janelas, já que é cá que vivemos e não se arranja melhor, pelo menos fingimos.
Uma país de merda. Mas, atenção: uma merda rotulada.

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